As três perguntas de Adolf.
As três perguntas de Adolf.
A
professora Elaine entrou em seu apartamento, chateada com o diretor que lhe
chamou a atenção, por falar sobre a política atual a seus alunos. Jogou a pasta
com as redações de seus estudantes no sofá, foi até a cozinha e voltou com um
copo de água, precisava corrigi-las; escolher uma para enviar a secretaria de
educação, era um concurso e o tema “um Herói”, sentou, abriu a pasta e retirou
um aleatoriamente.
30
de junho de 1978
Nome:
Klaus Müller
Trabalho
de historia
Um
Herói
O ano
era 1945, meu pai tinha minha idade, loiro de olhos azuis, foi criado pelo avô
materno, mas com a morte do mesmo foi abrigado a morar com o pai, mudou se para
uma cidade próxima de Berlim do lado oriental.
Meu
avô era tradutor, falava vários idiomas, mas não trabalhava para o governo, sua
casa era toda feita de madeira, um sobrado com Sótão, morava em uma estradinha
e a casa mais próxima era a cem metros de distância.
Na
primeira noite meu avô foi até o quarto dele disse.
-
Adolf! Se você ouvir qualquer tipo de barulho não se preocupe, tem uma família
morando em nosso sótão.
- Uma
família? Perguntou meu pai.
- Sim!
Uma família! Uma família judia!
- Mas
se eles descobrirem?
- Eu e
você somos presos e eles morrem!
- Mas
pai?
Meu
avô explicou, mas Adolf não concordava, então apareceu à grande idéia!
-
Filho! Você gosta de mitologia?
- Sim!
E fez
um sinal com a mão pedindo que esperasse alguns momentos e saiu do quarto, não
demorou muito, em sua mão uma folha de papel.
- Foi
escrito por um brasileiro, um mestiço, eu mesmo o traduzi, é a primeira de três
partes. Para cada parte você terá que fazer uma pergunta.
Meu
pai pegou a papel e começou a ler
O
que é mais importante que a própria liberdade?
Liberdade.
Prometeus foi aquele que roubou o fogo dos
céus e entregou a humanidade, com este fogo os humanos cozinharam os alimentos,
criaram ferramentas e armas, construíram e destruíram civilizações.
Pelo seu crime foi acorrentado na mais alta
montanha e seu fígado comido por uma águia todos os dias. Prometeus era um deus
que podia prever o futuro!
30.000 anos atrás.
Prometeus estava no alto da montanha, a águia
já fez a sua refeição, uma nuvem se aproximou e sobre ela Zeus.
– Prometeus – Cansou de mandar seus filhos e
lacaios.
– Zeus – Você sabe o que me traz aqui.
– Prometeus – Filho que ainda não nasceu e que
vai tomar seu trono nos céus.
– Zeus – O nome da mãe e serei piedoso.
– Prometeus – Não quero sua piedade.
– Zeus – Sua liberdade?
– Prometeus – Isto é muito pouco.
– Zeus – Nossos pais e tios não podem ser
libertados. *
– Prometeus – Isso não foi pedido!
– Zeus – Então diga o que queres?
– Prometeus – A cada inverno, essa informação
se torna mais valiosa, se minha tortura é física a sua será na alma.
– Zeus – Você sabe que posso te
destruir.
– Prometeus – O faça e será seu mais
estúpido erro.
– Zeus – Que os milênios destruam seu
orgulho.
– Prometeus – Não sou eu que tenho
pressa.
Zeus se afasta da montanha em sua nuvem.
·
Os titãs deuses que antecedem os olímpicos
Meu
pai ficou muito confuso com o texto, parecia uma mini peça de teatro, releu e
em seu caderno fez a primeira pergunta.
Deitou-
se, tentou dormir, mas o barulho que vinha do sótão, não deixou, eram passos,
de um lado para o outro, o ranger das tabuas. Fechar os olhos e abri-los
novamente pensou e disse varias vezes “Malditos judeus”.
Outro
dia quando meu pai acordou, saiu à procura de uma pequena fenda no teto,
vasculhou os cômodos, até que a viu, não era grande coisa, o suficiente para
matar sua curiosidade, foi até o quarto e voltou com uma cadeira, não foi o
suficiente, pegou outra e as empilhou, subiu nelas e aproximou seu olho direito
da fenda, via apenas as luzes das lamparinas, tentou olhar dos lados, e nada
via, tentou com o olho esquerdo, neste momento um pé judeu passou por cima da
fenda jogando poeira em seu olho, se desequilibrou e caiu, no sótão ouviram
gritos, meu avô apareceu.
- Por
deus! Adolf! O que você fez! E depois disse algumas palavras em uma língua que
meu pai desconhecia e subiu para o sótão.
Meu pai
ficou caído no chão, seu corpo doía, teve algumas lesões leves, e raiva, por
meu avô ter amparado primeiro os judeus.
Alguns
momentos depois meu avo voltou, com a cara baixa.
- Eu
poderia ter quebrado a perna e você os escolheu!
-
Filho se eles fizerem alguma besteira nos todos estamos perdidos.
- Mas
pai eles são judeus, vieram para nossa terra e enriqueceram.
- Por
isso devemos tirar suas vidas? Filho! Sabe o porquê de seu nome “Adolf”. Foi
uma homenagem ao nosso líder. Fui influenciado. Era membro do partido, o nazi.
Depois de uma reunião, acompanhei um grupo de colegas, andamos pelas
ruas escuras, éramos caçadores, movidos pela violência e preconceito,
espancamos uma polaca apenas pelo prazer, eu me senti onipotente. Ai! Veio o
dia seguinte, você no colo de sua mãe e a imagem da polaca sangrando, isto me
atormentou, deixei o partido, me entreguei a nossa família, com a morte de sua
mãe, e seu avô te querendo e tendo condições, não tive outra opção, o entreguei
e decidi fazer algo, e se algo é ajudar essas pessoas que estão ai em cima.
Meu
avô colocou a mão no bolso e tirou outra folha.
-
Adolf! É a segunda parte!
Meu
pai pegou a folha e iniciou a leitura
10.000 anos atrás
Zeus se aproximou da montanha
em um cavalo alado e negro. A águia ainda estava fazendo sua refeição.
- Zeus – O grande titã já se
acostumou com a dor.
- Prometeus – Aqueles que se
acostumam são os mesmos que se entregam!
- Zeus – Já sabe sobre a
Atlântida?
- Prometeus – Sim! Deus
genocida!
- Zeus – Mais de trezentas mil
pessoas.
- Prometeus – Só porque
construíram um templo para me homenagear.
- Zeus – Do mesmo tamanho do
meu.
- Prometeus – Por que não
descarrega sua ira neste titã, lance seus raios, me faça em cinzas.
- Zeus – Você sabe que não
posso.
- Prometeus – Pobre deus
onipotente, não será hoje que você terá sua informação.
- Zeus – Fique em seu suplicio
maldito titã.
- Prometeus – Antes de ir, diga
o motivo de sua ira.
- Zeus – você preferiu amar a
eles.
Adolf foi ao quarto e pegou seu caderno onde estava a primeira pergunta
e escreveu a segunda.
“Entre humanos e deuses! Porque escolher os humanos?”
Meu pai ficou ainda mais confuso, ele desceu e comeu um pedaço de
pão e pela janela viu uma árvore repleta de frutos foi até seu quarto e pegou
seu estilingue, desceu para o quintal, juntou algumas pedras, mirrou e soltou à
primeira, a fruta se espatifou em milhares de pedaços e tornou a repetir e
repetir, até se entediar, sentou-se abaixo de uma janela, continuava confuso,
até que apareceu uma dezena de passarinhos, meu pai pegou uma pedra, mirou e
não conseguiu soltar, tentou varias vezes. Por quê? O que era tão fácil se
tornou tão difícil. Voltou para casa e na sala viu biblioteca eram centenas de
livros organizados por titulo, foi direto nos que iniciava com “P” até
encontrar “Prometeu Acorrentado – Ésquilo” e a tarde, leu e releu a peça. Os
ruídos do sótão não o perturbavam mais, a noite caia. Jantou com o pai, ajudou
a montar os pratos para os judeus, o acompanhou até a entrada do sótão, voltou
para seu quarto. Tudo era novo e estranho.
Adolf acorda! É outro dia. Coloca os sapatos e desce para a sala,
gritou seu pai da cozinha.
Ele acordou e se levantou, colocou os sapatos e roupas, e começou
a descer as escadas.
- Em cima da mesa! Gritou seu pai.
E Adolf viu a folha, pegou e começou ler.
5.000
anos atrás
Zeus se
aproxima andando
- Zeus
– O que queres titã.
Prometeus
– A humanidade livre dos deuses olímpicos e minha liberdade.
- Zeus
– se explique.
-
Prometeus – Cortar todo contato, eles decidiram o futuro de sua raça, as belas
humanas não devem ser mais cobiçadas, suas guerras devem ser decididas por
eles, entre outras coisas.
- Zeus
– Eu aceito! Diga quem será ela.
-
Prometeus – A filha do deus Nereu de nome Tetis!
- Zeus
– O que devo fazer?
- Prometeus
– Case a com o rei Peleu, mantenha a longe e sempre a sua vista.
- Zeus
– Será feito! Mas...! Sua liberdade e a dos humanos só após estas coisas
acontecerem.
-
Prometeus – Concordo! Que as correntes e esta águia me acompanhe por mais
algumas décadas, que são décadas perto de milênios.
- Zeus
– Me responda meu primo, morreria por eles?
-
Prometeus – Até mesmo para nós, morrer é apenas um detalhe, quando se vive por
algo! Alguns seguiram meu exemplo, viveram e morreram por menos
- Zeus
– Como você! Serão tolos!
Zeus
caminhou e desapareceu.
Trinta
anos depois Hércules liberta Prometeus.
Adolf pega seu caderno e faz a terceira pergunta.
Devemos
viver por algo?
Caminhou até a cozinha, e disse.
- Pronto aqui estão às três perguntas.
Meu avô pegou o caderno e leu, sentou-se numa cadeira.
- Filho! A história de Prometeus é uma grande metáfora
sobre a vida, fala em que a gente se prende, veja essa casa, é o penhasco, o
rochedo, a montanha, os judeus e você são minhas correntes, eu mesmo as
coloquei e tenho orgulho disso, e a águia, a maldita águia é o medo de ser
descoberto.
- E essas perguntas?
- Suas perguntas! Suas respostas!
Eles tomaram café juntos e falaram muito, sobre a vida,
política e filosofia.
Alguns dias depois, meu pai e meu avô estavam trabalhando
na horta, algo chamou a atenção deles, vinha da estrada, eram tanques soviéticos, foram passando na frente da casa de meu avô, no último um soldado acenou para meu pai.
- Adolf! Perdemos a guerra! Disse meu avô sorrindo.
Naquela noite meu avô abriu o sótão e dele saiu um
velho judeu, barbudo e de olhos negros, depois uma garota, catorze anos, tinha
os cabelos escuros, compridos e negros, sua pele era muito branca e seus olhos
verdes.
Meu pai entrou no sótão e apenas viu duas camas e uma pilha
de livros, quando desceu viu os dois na sala sentados no sofá, meu avô os
apresentou.
- Adolf! Este Jacob! Ele não sabe nosso idioma, e, esta sua
neta Ester!
Naquela noite jantaram e pouco foi dito, com o passar dos
dias meu pai percebeu que Ester gostava das mesmas coisas que meu avô. Os dois
viviam falando sobre livros antigos. Em um desses dias Ester falou sobre a
necessidade e a ignorância no conto de natal de Charles Dickens, meu pai foi
até a biblioteca, pegou e o leu em uma noite, e descobriu porque que as pessoas
se tornam em criminosos, em outro dia a discussão foi sobre o retrato de Dorian
Gray de Oscar Wilde, Ester dizia que Dorian enxergava sua alma no retrato, meu
pai novamente foi à biblioteca, em uma outra noite estavam discutindo sobre o
demônio de Ivan , em
Os Irmãos Karamazov de Fiodor Dostoievski, quando uma pedra
quebrou a janela da sala, eram jovens Alemães, eles gritavam.
- Morte aos Judeus!
- Morte aos amigos dos judeus!
Meu pai viu medo nos olhos de Ester, Meu avô foi até o armário,
abriu a gaveta mais alta, pegou um revolver e saiu pela porta dando tiros para
o alto, os jovens fugiram e meu avô disse.
- O que fizeram com esses garotos!
No dia seguinte, Quando meu pai desceu para o café encontrou meu avô enchendo o pneu de uma bicicleta.
- Toma o café! - Disse meu avô - Preciso de sua ajuda!
E com a bicicleta ele foi chamar um amigo de meu avô, Schrader era seu nome, voltamos de automóvel, meu avô estava na varanda quando retornaram, trocou algumas palavras com seu amigo, entrou no automóvel e gritou para meu pai,
- Schrader irá ficar com vocês até eu voltar!
E meu avô partiu em direção de Berlin.
Schrader olhou para meu pai e perguntou.
- Onde está à pequena Ester?
- No escritório de meu pai, deve estar lendo.
E os dois entraram na casa, quando Ester o viu soltou o livro no chão e correu em sua direção, dando um caloroso abraço.
- Ester! Ester! Que saudades! – Disse Schrader.
- E os outros? Todos estão bem? - Perguntou Ester.
- Alguns escondidos outros conseguimos mandar para bem longe dos nazistas, mas todos estão bem.
- E Daniel?
- O mandamos com toda família para a América, mora em Nova York com os tios.
Schrader deu dois passos para trás e Perguntou.
- O que a menina de olhos verdes estava lendo?
- Estou relendo Dom Quixote, os cento e noventa e três livros que estão na estante já foram lidos, você não tem mais alguns para me emprestar.
- Não preocupemos com isso, vamos resolver o problema, você vai poder ler todos os livros que quiser e vocês nunca mais vão ter que se esconder.
Naquele momento, Adolf percebeu que não era apenas seu pai e Schrader, havia muitas pessoas envolvidas, um grupo, talvez uma sociedade preocupada em salvar vidas, ajudar pessoas diferentes, de outra cultura, de outra raça, ajudar apenas por que era preciso ajudar. O velho Jacob desceu do sótão e quando viu Schrader soltou um sorriso, um sorriso de agradecimento.
Meu avô retornou no final da tarde. Estava agitado e alegre, Schrader, Ester, Jacob e meu pai estavam na sala. E começou a contar as novidades.
- Deu tudo certo! Depois de amanhã iremos partir! Um paraíso tropical! Onde não seremos alemães ou judeus! Seremos apenas estrangeiros! Gringos! Um país latino e americano, um país de mestiços.
- Onde Pai? Perguntou Adolf.
- O Brasil.
Dois dias depois eles estavam partindo, a princípio meu pai ficou revoltado com a viagem e quando chegaram teve uma grande dificuldade com o idioma. Ester em alguns meses dominava a língua portuguesa. Meu avô já tinha traduzido vários livros portugueses e brasileiros. Jacob se manteve ignorando a língua alemã e portuguesa.
Com o passar dos anos meu pai e Ester se apaixonaram. Jacob era contra ao namoro, devido à religião e sua cultura. Tinha idade avançada e faleceu, alguns anos depois os dois se casaram. Mas continuaram os estudos. Minha mãe Ester formou em Letras ,literatura mundial e brasileira é professora, crítica e tradutora, é apaixonada por Machado de Assis e Clarice Lispector. Meu pai formou se em medicina se tornou obstetra era conhecido como o antártico devido o seu gosto pele cerveja e sua frieza no trabalho, trabalhava em hospitais públicos e católicos atendendo as pessoas mais necessitadas, os poucos dias que ficava em seu consultório, atendia a alta classes social. Meu avô como tradutor se tornou amigo de grandes escritores e artistas brasileiros, apaixonou se pela bossa nova, era amigo de Vinicius, Tom, Jorge e Elís, devido a essas amizades foi convidado a sair do Brasil pelo governo militar, Meu pai queria acompanhá-lo, Meu avô disse a ele
- Filho! Aqui você salva vidas. Lá você seria um montador em uma fabrica de automóveis, seus filhos são brasileiros. O que te prende aqui é muito maior. Se vocês me acompanharem, não vou me perdoar.
A onze anos ele partiu, na Alemanha e Israel foi reconhecido como herói, seu nome foi colocado naquele murro onde já estavam o nome de Guimarães Rosa e sua esposa. Toda semana ele mandava cartas para toda família, um dia meu pai recebeu um telefonema de Schrader, a triste noticia, meu avô tinha falecido em um acidente automobilístico. Apenas meu pai voltou para a Alemanha para enterrá-lo.
Tenho três irmãos! Todos com nomes de profetas!
Isaias Müller.
Daniel Müller.
Elias Müller.
O meu nome foi uma homenagem a um grande herói!
Klaus Müller! Meu Avô!
Fim.
A professora Elaine fechou a redação e a colocou em cima do sofá, e começou a refletir. “As maiorias dos outros alunos escreveram sobre Tiradentes ou D. Pedro I, uma ou duas paginas no máximo. Klaus fugiu do lugar comum, mas dificilmente será eleita a melhor redação, o personagem central foi expulso pelo governo, era estrangeiro e amigo de pessoas que são contra esse governo”. Ela se levantou deu dois passos e lembrou-se das três perguntas de Adolf, voltou e pegou a redação e disse para si mesma.
- Se não aparecer outra melhor! Será esta que enviarei!
Fim.
No dia seguinte, Quando meu pai desceu para o café encontrou meu avô enchendo o pneu de uma bicicleta.
- Toma o café! - Disse meu avô - Preciso de sua ajuda!
E com a bicicleta ele foi chamar um amigo de meu avô, Schrader era seu nome, voltamos de automóvel, meu avô estava na varanda quando retornaram, trocou algumas palavras com seu amigo, entrou no automóvel e gritou para meu pai,
- Schrader irá ficar com vocês até eu voltar!
E meu avô partiu em direção de Berlin.
Schrader olhou para meu pai e perguntou.
- Onde está à pequena Ester?
- No escritório de meu pai, deve estar lendo.
E os dois entraram na casa, quando Ester o viu soltou o livro no chão e correu em sua direção, dando um caloroso abraço.
- Ester! Ester! Que saudades! – Disse Schrader.
- E os outros? Todos estão bem? - Perguntou Ester.
- Alguns escondidos outros conseguimos mandar para bem longe dos nazistas, mas todos estão bem.
- E Daniel?
- O mandamos com toda família para a América, mora em Nova York com os tios.
Schrader deu dois passos para trás e Perguntou.
- O que a menina de olhos verdes estava lendo?
- Estou relendo Dom Quixote, os cento e noventa e três livros que estão na estante já foram lidos, você não tem mais alguns para me emprestar.
- Não preocupemos com isso, vamos resolver o problema, você vai poder ler todos os livros que quiser e vocês nunca mais vão ter que se esconder.
Naquele momento, Adolf percebeu que não era apenas seu pai e Schrader, havia muitas pessoas envolvidas, um grupo, talvez uma sociedade preocupada em salvar vidas, ajudar pessoas diferentes, de outra cultura, de outra raça, ajudar apenas por que era preciso ajudar. O velho Jacob desceu do sótão e quando viu Schrader soltou um sorriso, um sorriso de agradecimento.
Meu avô retornou no final da tarde. Estava agitado e alegre, Schrader, Ester, Jacob e meu pai estavam na sala. E começou a contar as novidades.
- Deu tudo certo! Depois de amanhã iremos partir! Um paraíso tropical! Onde não seremos alemães ou judeus! Seremos apenas estrangeiros! Gringos! Um país latino e americano, um país de mestiços.
- Onde Pai? Perguntou Adolf.
- O Brasil.
Dois dias depois eles estavam partindo, a princípio meu pai ficou revoltado com a viagem e quando chegaram teve uma grande dificuldade com o idioma. Ester em alguns meses dominava a língua portuguesa. Meu avô já tinha traduzido vários livros portugueses e brasileiros. Jacob se manteve ignorando a língua alemã e portuguesa.
Com o passar dos anos meu pai e Ester se apaixonaram. Jacob era contra ao namoro, devido à religião e sua cultura. Tinha idade avançada e faleceu, alguns anos depois os dois se casaram. Mas continuaram os estudos. Minha mãe Ester formou em Letras ,literatura mundial e brasileira é professora, crítica e tradutora, é apaixonada por Machado de Assis e Clarice Lispector. Meu pai formou se em medicina se tornou obstetra era conhecido como o antártico devido o seu gosto pele cerveja e sua frieza no trabalho, trabalhava em hospitais públicos e católicos atendendo as pessoas mais necessitadas, os poucos dias que ficava em seu consultório, atendia a alta classes social. Meu avô como tradutor se tornou amigo de grandes escritores e artistas brasileiros, apaixonou se pela bossa nova, era amigo de Vinicius, Tom, Jorge e Elís, devido a essas amizades foi convidado a sair do Brasil pelo governo militar, Meu pai queria acompanhá-lo, Meu avô disse a ele
- Filho! Aqui você salva vidas. Lá você seria um montador em uma fabrica de automóveis, seus filhos são brasileiros. O que te prende aqui é muito maior. Se vocês me acompanharem, não vou me perdoar.
A onze anos ele partiu, na Alemanha e Israel foi reconhecido como herói, seu nome foi colocado naquele murro onde já estavam o nome de Guimarães Rosa e sua esposa. Toda semana ele mandava cartas para toda família, um dia meu pai recebeu um telefonema de Schrader, a triste noticia, meu avô tinha falecido em um acidente automobilístico. Apenas meu pai voltou para a Alemanha para enterrá-lo.
Tenho três irmãos! Todos com nomes de profetas!
Isaias Müller.
Daniel Müller.
Elias Müller.
O meu nome foi uma homenagem a um grande herói!
Klaus Müller! Meu Avô!
Fim.
A professora Elaine fechou a redação e a colocou em cima do sofá, e começou a refletir. “As maiorias dos outros alunos escreveram sobre Tiradentes ou D. Pedro I, uma ou duas paginas no máximo. Klaus fugiu do lugar comum, mas dificilmente será eleita a melhor redação, o personagem central foi expulso pelo governo, era estrangeiro e amigo de pessoas que são contra esse governo”. Ela se levantou deu dois passos e lembrou-se das três perguntas de Adolf, voltou e pegou a redação e disse para si mesma.
- Se não aparecer outra melhor! Será esta que enviarei!
Fim.
Interessante jogar este texto no tempo das Annes Francks que fugiam do nazismo.
ResponderExcluirQue Hércules não demore para vir. Quero ler e final.
É BOM LER TEXTOS ASSIM, INSTIGANTES, E DE CERTA FORMA NOS REMETEM A UMA ÉPOCA IMPORTANTE!
ResponderExcluirInteressante...Quero ver o final!
ResponderExcluirtbm estou interessada no final =)
ResponderExcluirO final tá aí, ué.
ResponderExcluirMuito bom :)
Muito bom
ResponderExcluirposso te dizer uma coisa? você é fenomenal...
ResponderExcluirmuito bom ,amei seu texto fiquei feito uma estatua lendo kkk
ResponderExcluir